sábado, 9 de maio de 2009

metrô

foi no olhar dele que me assisti crescer, por trás daqueles olhos tão noturnos e cuidadosos - atentos a cada movimentação mínima que meu corpo inalcançável fazia. foi por trás de todas as brincadeiras que seus lábios rachados diziam que minha percepção de mundo e riso estenderam-se . por trás de todos os toques calculosamente cuidadosos que senti pela primeira vez uma atribuição nova ser adicionada ao amor. ele sempre foi quem tirava-me mais facilmente um riso inesperado e um suspiro espontaneamente profundo... por ele eu corria quilômetros para alcançar o trem, em que em algum vagão, eu poderia sentar ao seu lado e me aconchegar naqueles ombros quentes e ovais - encontrando uma pax instantânea que era minha e só. nele eu enxergava a possibilidade de obter a máxima libertação que é sentir, na sua companhia apreciável me atiraria sem olhar para trás ou repensar no abismo que é amar.
fomos calmaria, risos, letras somadas, aromas, encontros, olhares e gotas cristalinas.
é dolorido pôr expectativas em algo, algum caminho ou desejo, e falhar. dói na alma, dentro do peito, nos faz questionar se o tempo foi válido, perdido ou vão. falhar depois de grande esforço para obter algo é como amar em silêncio - nos faz sentir dor na alma, dá-nos uma fraqueza, descrença abrangente e um arrependimento devassador por não termos tido coragem de ter ido mais além.